domingo, 9 de novembro de 2014

Izzy Stradlin - 117º


Ano de lançamento: 1998


Felipe:

"Izzy Stradlin é um cara legal. Na verdade, é um dos caras mais legais do rock n’ roll. Membro fundador do Guns n’ Roses, Izzy vem de uma escola de guitarristas cujo estilo cai muito bem aos meus ouvidos: podemos traçar a linha evolutiva  como algo cronologicamente  tipo “Chuck Berry / Keith Richards / Johnny Thunders / Steve Jones / Izzy Stradlin”.  Principal compositor do Guns, ao lado do praticamente amigo de infância Axl Rose, ele foi responsável pela maioria das canções que você sempre ouviu com a banda e, se você não é fã, pelas que você nunca ouviu também.
Izzy viveu intensamente seus anos de rockstar entre o fim dos anos 80 e começo dos 90. Abusou de todos os clichês desse estilo de vida, principalmente das drogas. De repente, pra surpresa de todos, ele abandonou o Guns n’ Roses após gravar o megalomaníaco álbum Use Your Illusion, dois discos duplos lançados simultaneamente e que consolidaram o Guns como a maior banda de seu tempo (até o Nirvana aparecer tirando sarro daquilo tudo), algo correspondente ao Led Zeppelin dos anos 90.
Inicialmente, o Guns era uma banda formada por cinco representantes da escória da sociedade de Los Angeles, que viviam nas ruas, eram alimentados por strippers e vendiam drogas para sobreviver. Seu som e letras eram cheio de referências de suas experiências nas ruas, com influências de hard rock setentista e punk. Quando Izzy caiu fora, o Guns já era uma megacorporação que viajava o mundo em seus aviões próprios. Contavam com uma equipe de dezenas de empregados e - além da prima donna com tons de afetação dignos de uma diva da ópera que se tornara o Axl Rose milionário e dos novos membros oficiais (o não muito útil tecladista Dizzy Reed e o baterista Matt Sorum) - contavam no palco com uma penca de músicos de apoio, como mais um tecladista, três backing vocals, gaitista e tocadores de tamborim e buzina. Sim, buzina.  
Diante dessa banda completamente diferente da proposta original; dos caprichos irracionais de Axl Rose - atrasando shows, cancelando datas e revoltando os fãs e os próprios membros da banda; do incidente onde dois fãs foram mortos pisoteados em um tumulto durante um show e da situação perigosa a que ele mesmo chegara com relação a seu vício em heroína, Izzy simplesmente fez as malas e foi embora no meio da turnê. E o tempo mostrou que foi o melhor que ele fez.
Depois de sua saída, o Guns simplesmente implodiu. Talvez a maior causa tenha sido a pressão de seguir sem seu principal compositor. A única coisa que fizeram depois de Izzy foi um competente álbum de covers. Chinese Democracy nem conta. Stradlin, por sua vez, se limpou do vício e foi fazer o que sempre fez: tocar guitarra. Sua carreira solo é propositalmente low-profile. Alguns álbuns ele só lança no Japão. Não quer saber de turnês nem de se adaptar aos ouvidos dos jovens de hoje em dia.
E 117º é um disco que resume esse espírito, com boas guitarras dialogando entre base, solos e slides. Fã de Keith Richards, de quem ele copiava até o visual durante o Guns, Izzy registrou, em seu segundo álbum, um trabalho baseado em metade Stones e metade Dylan. O baixo ficou por conta de seu companheiro de Guns, Duff McKagan, que nem aparece nas fotos do encarte, de tão low profile que Izzy é. O vocal fraco, porém charmoso, de Izzy parece Keith Richards cantando bêbado no fundo de um bar de madrugada.
Ain't It a Bitch é a única faixa que lembra os tempos misóginos de Guns. Gotta Say e Good Enough são baladas maravilhosas de violão compostas por quem cresceu ouvindo Wild Horses e Angie. Memphis é uma homenagem a Chuck Berry, Old Hat é country da melhor qualidade e Here Before You segue a mesma pegada, porém com tom mais blues. Parasite é uma porrada punk e a faixa titulo é um hard rock com refrão pegajoso. Entre outras canções, também destaco os rockões Methanol e Up Jumped the Devil.
Vale a pena conhecer a carreira solo de Izzy e recomendo começar por este álbum, que com certeza é melhor e mais sincero do que aquela porcaria de Chinese Democracy dos empregados do Axl.  117º é o melhor disco dos Stones jamais gravado pelos Stones."     
Nota:  8/10



Rafael:

"Nunca gostei de Guns’n’Roses. Quando tomei conhecimento da banda não era o tipo de som que ouvia à época. Na verdade, aquele som grandioso, pomposo, megalomaníaco, com clipes intermináveis que beiravam a paródia e a falta de noção do ridículo eram o extremo oposto do que realmente “fazia minha cabeça” na minha adolescência. Era o Guns já no começo de descida da ladeira, em que o som fazia menos importância que o espetáculo.

Exatamente por ignorar a banda e não fazer questão de detalhes de sua história, me causou surpresa quando fui procurar saber mais sobre o ex-guitarrista Izzy Stradlin. Izzy também parecia não suportar o Guns’n’Roses desta época, pois, no auge do sucesso da banda, ele pulou fora. O guitarrista, co-fundador do Guns, tem uma ética de trabalho em que o som e suas convicções artísticas falam mais alto que a fama e o sucesso. Após sair do Guns ele praticamente se tornou um recluso para a mídia e se importa apenas de fazer sua música e pelo menos poder viver dela. Já lançou vários álbuns neste ínterim, a maioria de forma independente e com mercado restrito (a maior parte no Japão).

Ao ouvir 117°, seu segundo álbum solo, percebe-se uma vibe "Stones em Exile on Main Street" menos a carga pesada de drogas e a pressão que os stones tiveram na época. São 14 faixas de um rock'n'roll básico, cru e direto, comecando com o hard rock arrasa quarteirão de Ain't it a Bitch e a pegada não perde força até finalizar na ótima homenagem instrumental ao Dick Dale em Surf Roach.

Apesar de ser em sua maioria hard rock, há um clima de diversão em todo disco, como se fosse uma reunião de amigos para tomar um Jack Daniels, uma cerveja, fumar baseados e passar dia e noite tocando e celebrando o bom e velho rock'n'roll. É o que se  ouve em Memphis, uma versão turbinada do clássico de Chuck Berry, que parece como se o Guns apropriasse a música em seu nome, ou em Grunt, uma jam sensacional que parece homenagear todas as boas influências de Izzy como Motörhead, Led Zeppelin e Rolling Stones.

Depois de conhecer 117° não digo que foi uma experiência nova e transformadora, mas houve a surpresa de se ouvir música boa de onde menos se espera. Talvez um dia eu dê chance ao Guns."

Nota: 7/10








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