terça-feira, 2 de junho de 2015

Queens of the Stone Age - Rated R


Ano de lançamento: 2000


Rafael:
"A primeira lembrança que tenho do Queens of the Stone Age não dizia respeito ao seu som, mas por presenciar nos noticiários o que hoje se “memetizou” como CENAS LAMENTÁVEIS: o show que eles fizeram no Rock in Rio em 2001, como atração secundária, num horário e palco bisonhos, foi interrompido por um surto do baixista Nick Olivieri de cismar de tocar pelado. Já que aqui era o país do carnaval e todo mundo samba pelado, qual o problema, não é mesmo?! Isto de certa forma me criou uma certa “preguiça” da banda sem ao menos ter noção de qual som faziam. “Metal bate-cabeça burro e vagabundo, da pior espécie é o que deve ser”, pensei à época.

Uma coisa que aprendi com o tempo e, principalmente com o QotSA, é que as primeiras impressões são falsas e escondem muito mais do que se pode supor. Eles podem até ser classificados como metal, mas resumir a banda a isto, ou até mesmo a qualquer rótulo, é uma visão unilateral que não se sustenta na visão artística de Josh Homme, líder do QotSA. Em sua adolescência Josh vivia na cidade de Palm Desert na Califórnia e, sem perspectiva de futuro, só queria saber de ouvir Black Sabbath, bandas de hardcore e metal da cena local, fumar (muita) maconha, beber e tocar guitarra com seu amigo Nick Olivieri. Junto com outros conhecidos da cena local formaram o Kyuss, seminal (e subestimada) banda da então nova cena denominada stoner metal. Josh e companhia tocavam por horas ininterruptas no deserto nas denominadas “festas do gerador” em que utilizavam geradores movidos a gasolina para ligar seus amplificadores. Além disto, plugou sua guitarra em um amplificador de baixo para reforçar seus riffs com um som grave que não se conseguia com pedais de efeito. O Kyuss acabou após alguns anos e, de suas cinzas surgiu o QotSA. Liderada por Josh Homme e acompanhado pelo “escudeiro” Nick Olivieri a banda aponta para caminhos mais audaciosos e que os afastavam mais das demais bandas da cena stoner. Em seu primeiro álbum, homônimo, o QotSA troca as longas jams do Kyuss por músicas concisas e diretas e Josh assume o vocal, fazendo um contraponto do instrumental agressivo com melodias mais harmoniosas de sua voz. Há ótimas músicas como Regular John, Avon, If Only e Mexicola, mas o disco é “monocromático” em sua sonoridade e sente-se que parte do apelo lisérgico e psicodélico do Kyuss tivesse se perdido no deserto.

Talvez seja por isso que ironicamente (ou não), Rated R, o segundo álbum do QotSA inicia-se com um mantra persistente, que evoca tudo que seria necessário para um “Feel Good Hit of The Summer”: “Nicotine, Valium, Vicodine, Marijuana, Ecstasy and Alcohol” para depois sacramentar em plenos pulmões “Co-co-co-cocaine!”. Percebe-se a partir da primeira faixa que a psicodelia retorna,mas a viagem que surge é um road movie que transita entre o absurdo medonho de Fear and Loathing in Las Vegas e o sentimento agridoce do estilo de vida de um rockstar de Almost Famous. Rated R se revela, faixa a faixa, um disco mais aberto em suas concepções e aspirações artísticas, levando o nicho stoner metal a outro patamar sem se amarrar a ele também. Há sempre o contraste de sonoridades, como a sensação de fim de festa dos versos de "In the Fade" com o ataque de fuzz das guitarras em seu refrão; o humor pervertido e escrachado de Olivieri em meio a uma porrada hardcore e backing vocals de “inocentes colegiais” em “Quick and to The Pointless”; o power pop com vocais em falsete “disfarçados” de stoner metal de “The Lost Art of Keeping a Secret”; o hard-prog-stoner que termina em fanfarra de “I Think I Lost My Headache”; ou o instrumental árido e viajado para lembrar os áureos tempos de Kyuss em “Lightning Song”.

Analisando após tantos anos percebemos que em Rated R há toda a essência e ecletismo do Qotsa que veríamos dispersos em seus álbuns posteriores, cada qual carregando mais em uma característica, seja o tributo indébito ao stoner metal e às "generator parties" do Kyuss de Songs for The Deaf, o ocultismo e a sexualidade dark bizarra de Lullabies to Paralize ou a mescla de stoner, grunge e sintetizadores de Era Vulgaris. E neste balanço de se não impor limites e classificações fáceis o Qotsa tem se firmado, desde o fim dos anos 90, como uma das melhores bandas de rock do novo milênio."

Nota: 9/10


Felipe:
" 'Nicotine, valium, vicodin, marijuana, ecstasy and alcohol… c-c-c-cocaine!'. A lista da prescrição médica – ou da dieta – de Josh Homme abre o álbum Rated R, segundo disco do Queens of the Stone Age. Feel Good Hit of the Summer é o nome da porrada sonora/mantra junkie, e a sensação é de que uma manada de cavalos cegos que passaram a semana inteira pastando folhas de alcaloide marcham em sua direção no meio de uma guerra medieval.

A faixa deixa clara a diferença entre o QotSA e os artistas que dominavam o mainstream no início dos anos 2000: boy bands, girl groups e uma safra horrível de bandas de nu metal que eram piores ainda que as boy bands e girl groups, como Linkin Park, System of a Down e Limp Bizkit.

Em Rated R, Josh Homme é o responsável por um rock honesto que, se não tinha nada de genial, pelo menos apontava um caminho alternativo para a geração pós-grunge. Essa, por sua vez, preferiu seguir uma direção mais fácil e pop durante os últimos anos em que a MTV tinha alguma relevância para apontar e manipular os gostos musicais da juventude, como é o caso dos horríveis Creed, Nickelback e Blink 182.

Sério, o cenário musical no início dos anos 2000 era patético pra não dizer ridículo. Contrastando com isso, havia o QotSA fazendo o papel de messias do stoner rock, um gênero complicado de explicar até pra quem é entendedor de rock n’ roll: é hard rock? É psicodélico? Metal? Punk? É tudo isso junto? Mas tudo isso junto não é grunge?  A melhor definição pro stoner rock que já vi é “AC/DC e Black Flag fumando crack numa festa na casa de Lemmy Kilmister”. Isso em um mundo que se encontrava infestado de rap-metal, ciber-góticos e punks skatistas assépticos. E olha que estamos falando de um cenário pré-orkut/emocore. O fundo do poço, meus amigos.

Rated R, que traz participações de Mark Lanegan (Screeming Trees) e Rob Halford (Judas Priest), é um registro que comprova fielmente a definição do estilo “Malcon Young e Henry Rollins fumando pedra”. O álbum continua atual, pois se a cena nos anos 00 já era um saco, a de hoje não ajuda também. Como disse Miguel Sokol na Rolling Stone Brasil, em uma época onde o mediano Foo Fighters é a maior referência pro que sobrou do rock: o U2 virou uma ONG; o Radiohead não se encaixa mais na categoria ‘bandas de rock’; Jared Leto interpreta um roqueiro; Maroon 5 nem é uma banda verdade;  Red Hot virou tortura em Guantánamo; Guns virou comercial de cerveja e Libertines é muita polêmica e pouca música.  A solução: God Save the... Queens of the Stone Age."

Nota: 9/10




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