quarta-feira, 24 de junho de 2015

The Monks - Black Monk Time


Ano de lançamento: 1966


Rafael:
" Sinceramente, tentei iniciar este texto por umas quatro vezes, todas diferentes. É uma história, um grupo e um disco tão absurdos que fica difícil saber por onde começar. Do início, talvez?! Seria muito convencional para estes lunáticos.

Mas vamos lá: os Monks (não confundir com os Monkees) tiveram uma breve existência no meio dos anos 60 e este disco é o único registro da banda em estúdio (foi relançado algumas vezes, sempre com a inclusão de faixas bônus). Os integrantes eram do exército norte-americano, pararam na Alemanha, foram dispensados dos serviços militares e ficaram por lá.

Resolveram montar uma banda de beat, os 5 Torquays. Eram iguais às demais bandas da época. Um dia, sabe-se lá porque, resolveram experimentar sons, ritmos e instrumentos. Descobriram feedback e adicionaram banjo ao seu som. De 5 Torquays para The Monks. Da convencionalidade para a insanidade. Para adicionar um elemento blasfemo à mistura, que tal se caracterizar realmente de monge, incluindo raspar o topo da cabeça? Voilà, está formada uma das bandas mais absurdas, maníacas e divertidas da história do rock.

Mas os Monks não seriam assunto deste blog se fossem apenas um grupo engraçadinho em roupas de monges. Black Monk Time é o testemunho musical da insanidade latente que se acumulava em cada um dos integrantes na época do exército. A violência e a falta de propósito da guerra, a confusão entre o amor frívolo e a falta do amor sincero, a vontade de destilar o ódio ao mundo, a loucura em seu estado bruto. "O horror", Marlon Brando proferiria anos mais tarde em Apocalipse Now...

O resultado desse caldeirão de sentimentos se materializa num som totalmente inédito para a época, e singular (para não dizer estranho) até hoje. Em Black Monk Time ouvimos o que seriam sementes para o surgimento de vários gêneros como a crueza e o impacto direto do punk, os ritmos quebrados e a experimentação do krautrock e da música eletrônica, o cinismo e o absurdo disfarçados em pop de bandas como o Devo e Pixies.

Desde o baixo sinuoso entrecortado pela síncope do banjo, a dissonância persistente do teclado e os vocais insandecidos de um monge da escuridão de Gary Burger em Monk Time ao pop “torto” cheio de drones de “That’s My Girl” o recado é direto: o mundo está acabando, então vamos dançar, bater cabeça e rir disto tudo com dentes cerrados de aflição e rancor. Quando entoam “Eu te odeio com paixão/fervor querida, sim eu odeio. Mas me chame!”, em “I Hate You”, ou cantarolam uma música infantil setenciando “descer aos céus” em “Higgle-Dy Piggle-Dy” rimos da ironia e do sarcasmo ao mesmo tempo que pensamos o quão doentias são as músicas de Black Monk Time.

O grupo, obviamente, não fez sucesso (apesar de haver no Youtube alguns vídeos do programa Beat Club, da Alemanha) e é uma incógnita até como eles chegaram a ser agenciados e terem conseguido gravar e lançar o disco. O que importa é que, de uma forma ou de outra, influenciaram muitas bandas e não encontramos até hoje alguém que tenha feito esta “polka do inferno” tão divertida, dançante e maníaca. "

Nota: 9/10



Felipe:
" Uma das bandas mais esquisitas de que já tive notícia, os Monks (não confundir com o pop The Monkees) eram uma banda americana que fazia rock de garagem no meio dos anos 60. Ex-militares, os integrantes misturavam um rock cru com marchas militares, ritmos inusitados com polka e instrumentos não muito convencionais pro rock n’ roll, como o banjo. E, como se não bastasse, se apresentavam vestidos de monges franciscanos, com a carequinha no meio da cabeça e tudo. Cheio de músicas estranhas, eu posso ver nitidamente a influência que eles exerceram em bandas neoesquisitas, como os Pixies. Quase dá pra fechar os olhos e imaginar Black Francis urrando com sua guitarra pendurada na barriga. Mas eu não enxergo nada parecido com o que esses caras faziam dentre os seus contemporâneos. Veja bem, estamos falando de Black Monk Time, um álbum de 1966. O que tínhamos então? Na nata da contracultura, havia Revolver, Blonde on Blonde, Aftermath, A Quick One, Freak Out. O underground já se movimentava pro que seria a explosão psicodélica de 1967, com as bandas de São Francisco e o verão do amor. A vibe era totalmente outra. No máximo poderíamos destacar os também esquisitos do Velvet Underground, que estreariam um ano depois de Black Monk Time. Mas mesmo assim, se a galera do VU ficou famosa por ser freak a ponto de literalmente fazer shows em hospícios, os caras dos Monks podiam muito bem estar na própria plateia que assistia a esses shows. O disco destoa totalmente do pré-flower power de 66, em faixas como I Hate You (“Well you know my hate's everlastin' baby / do you know why i hate you baby ? Because you make me hate you”) e Shut Up (“Believing you're wise and being so dumb / Shut up”). Mas a melhor é a faixa que abre o álbum, Monk Time. Ali, os ex-militares conseguem se encaixar no espírito dos anos 60, em um furioso protesto contra a Guerra do Vietnã e a cultura americana em geral: “You know we don't like the army / What army? Who cares what army?/ Why do you kill all those kids over there in Vietnam? / My brother died in Vietnam! James Bond, who was he? / Stop it, stop it, I don't like it! / It's too loud for my ears / We don't like the atomic bomb/ Stop it, stop it, I don't like it!”. Black Monk Time é um disco estranho, não muito melódico (apesar dos pastiches de vaudeville em alguns momentos), com letras que variam do desprezo aberto por instituições e relações humanas, passando pelo protopunk até a mais completa baboseira infantil. Não é um disco para se ouvir antes de morrer, mas vale a pena demais pelos culhões que os caras tiveram pra ser uma banda tão maluca, mas tão maluca, que até hoje, quase 50 anos depois, continuam sendo esquisitos e não-comerciais. "
Nota: 6/10


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