sexta-feira, 7 de agosto de 2015

The Bellrays - Let it Blast


Ano de lançamento: 1998


Rafael:
Meu comparsa de blog me perguntou, quase de bate-pronto, após eu ter indicado para falarmos a respeito de “Let it Blast” dos Bellrays: “Cara, porquê você sempre indica bandas obscuras e estranhas que quase ninguém conhece? Você quer se afirmar como mais ‘avant-garde’ do que eu? Quer pagar de doidão, de diferente?” Enquanto bem lá no fundo, mas bem lá no fundo MESMO pode haver uma remota ponta de verdade, meu objetivo é, digamos, mais nobre: eu acredito verdadeiramente que há sempre algo que valha a pena ser conhecido, sempre algo legal que pode estar rolando e que poderemos morrer sem ao menos conhecer. Natural da vida.

Não vamos ver todos os filmes que merecem ser vistos, os quadrinhos e livros que merecem ser lidos, as músicas que merecem ser ouvidas. Mas se um leitor “fiel” ou aleatório ler nosso texto e, vá lá, ainda se aventurar a buscar o disco ou ouvir uma música que seja eu fico realmente feliz e com o sentimento de “dever cumprido”. Quanto romantismo…

Mas vamos aos Bellrays: imagine uma Tina Turner que meteu o pé (literalmente) na bunda do Ike e entrou nos Sex Pistols, ou uma Aretha calejada na música que, ao invés de ir pro lado da disco music resolve dar uma canja com alguma banda do CBGB? Pois esta é uma imagem possível dessa banda americana surgida ainda no auge do grunge, nos anos 90, restrita aos confins da cena underground americana. Lançaram seu primeiro álbum, “Let it Blast”, em 1998 e contam com a formação clássica de uma banda de rock (guitarra, baixo e bateria) e os vocais maravilhosos cheios de soul e fúria de Lisa Kekaula, o coração dos Bellrays.

E que disco de estréia é “Let it Blast”: com a confiança e prepotência juvenil necessária para um bom disco de punk entoam aos berros “The Future Now!” e a vibe que se segue é de estarmos dentro de um show em um clube apertado, gravado ao vivo, tudo em um take, sem firulas. Quase não há espaço para respirar, tudo é urgente e direto, embrulhado na mais gloriosa estética lo-fi e seguindo à risca a cartilha do “faça-você-mesmo”. Os momentos de quebra desse ritmo vertiginoso são nas vinhetas no melhor estilo “cool jazz”, na balada crua de “Blue Cirque”, no hard rock cadenciado de “Good Behavior” e no R´n´B embebido em speed de “King of The World”. O resto é um convite para um mosh pit com suíngue como em “Cold Man Night”, “Hole in the World” e “Blues for Godzilla”.

Sem mais delongas, sigam a recomendação da banda: “Quem se importa de onde viemos ou o que fizemos antes ou quantos discos lançamos. Estatísticas não tem a ver com o som desta banda. Se você tem uma mente aberta e quer algo desafiador na sua vida, então é isto que você deve ouvir. Ouça e faça sua cabeça. Se você quer alguém que lhe diga o que é, vá ao site da Kelly Clarkson. Você é que vai nos dizer o que somos e então dizer a seus amigos se gostou ou não.”

E para finalizar, pregam: “Blues é o professor. Punk é o pastor”. Amém.

Nota: 9/10




Felipe:
Como o fiel leitor já deve ter percebido, tenho meio que preguiça, pra não dizer preconceito, de conhecer bandas novas. Com tanto Pink Floyd, Led Zeppelin, Sex Pistols, Rolling Stones pra ouvir, pra quê ficar procurando bandas que não têm nada pra oferecer que já não tenha sido feito melhor antes?

Foi com esse pensamento que ouvi Let it Blast pela primeira vez, álbum de 1998 (nem tão novo assim), dos Bellrays, banda em atividade até hoje. Um disco cru e gravado ao vivo no estúdio com os vocais poderosos e sem afetação de Lisa Kekaula (guarde este nome) e backing vocals masculinos desafinados e fora do tempo. A primeira música que ouvi foi Blues for Godzilla e putaqueopariu! Foi um soco no estômago, um verdadeiro tapasso na orelha pra deixar de ser otário. Que som FODA!

Ouvi a faixa no fone de ouvido e no talo, tomei um empurrão sonoro e quase caí pra trás no meio da rua. Enquanto escrevo isso, quase dez dias depois, ainda não parei de ouvir. Imagine Aretha Franklin cantando numa banda de garagem. Soul e punk rock. Stooges e James Brown. Black Flag e Tina Turner. 

Só queria que grandes bandas consagradas - neodinossauros do rock de meia idade como U2 e Pearl Jam, que apesar do passado glorioso e cheio de atitude e pegada punk só têm feito discos mornos e sem graça nos últimos tempos - ouvissem esse álbum. Deveriam sentir vergonha do som que fazem atualmente ao escutar Let it Blast. Talvez isso até desse um gás neles pra gravarem músicas melhores, uma motivação, uma sensação de estar comendo poeira, de estar acomodado e ter perdido a raiva. E a raiva é fundamental no rock n’ roll. Sério, se é pra perder a raiva é melhor nem pegar numa guitarra.

Não há muito o que criticar. Escute ainda hoje e comece por Blues for Godzilla. C’mon!

Nota: 9/10









Nenhum comentário:

Postar um comentário